terça-feira, 2 de fevereiro de 2010


Palestina - 1967


Em uma de minhas viagens da infância para a Palestina, onde o turismo, tal como se conhece hoje, era impossível, ao viver toda a intensidade de seus conflitos religiosos e políticos, aprendi a conversar comigo mesmo. Na verdade, criei, como o faz toda criança, ainda mais aquelas no seio dos confrontos familiares, um amigo imaginário.

Mas, ao invés de estabelecer diálogo com um urso, um dinossauro, uma boneca russa (que se abre em mil pedaços, ao infinito) ou um ser espacial, criei uma personagem que era a minha imagem no espelho. Era como eu, mas invertido. Tudo em meu amigo imaginário era o inverso de mim. Suas ideias políticas (sim, eu as tinha quando criança, consequência da vida em conflito), seus sentimentos, seu gênero, seus defeitos e virtudes.

Assim, desde muito infante, a cada novo passo (ao primeiro dia na escola, ao conhecer um novo amigo, ao sentir o primeiro amor), a cada experiência, a cada leitura, conversava comigo mesmo, mas do avesso, ao contrário, do outro lado.

Qual o significado psicanalítico disso? Não sei, nem quero saber, ao menos não agora. Porém, sei, isso sim, que conversar com o inverso de mim mesmo, trouxe-me paz de espírito, neste "Mundo dos Conflitos".

Postado por Diário Halotano, traduzindo Anna Bernnabar.

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