quinta-feira, 29 de outubro de 2009




Enquanto vocês me leem aqui, devo estar em um encontro social importantíssimo. Não sei se chove, ou se a noite é, de uma outra maneira, linda e estrelada. Mas e daí, textos sobre a chuva são belos, mesmo sob os astros do universo!

A chuva se prepara, como quem executará um solo operístico! Gargarejos, arpejos, garganteios e lampejos. Assusta os espectadores.

O concerto da Chuva começa! Em um mezzo forte, movimento Allegro Moderato. Logo em fortíssimo e Presto, para o devaneio dos ouvintes.

Como em um solo interrompido de um Requiem, a chuva termina seu concerto vespertino. Sem aplausos, sem vaias; somente o suspiro...

Boa semana para você. Um desejo atemporal, nos dois sentidos!

Postado por Diário Halotano.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009




Já é parte integrante da sabedoria popular a eficiência do sabão em pó OMO, para a limpeza têxtil doméstica. Frases de propaganda famosas, como "Porque se sujar faz bem", ficarão ainda na memória coletiva por um tempo. Todavia, mais do que promover a marca saponácea da famigerada Unilever, quero compartilhar hoje uma história...

Era uma vez uma cidade, grande e populosa. Uma cidade na qual os acasos eram todos determinados. Seus munícipes caminhavam sem muita esperança de algo novo e melhor.

Mas, em um ano qualquer, dizem que 2099, eis que quatro desses sujeitos paulistas, como frutos da coincidência, encontram-se em uma mesma empresa educacional, como professores da existência, como inquietos propagadores dos saberes!

Algum tempo se passou, foram-se conhecendo, aos poucos, não timidamente. Entre um aprendiz e outro; entre uma letra, um número; aprendiam que a melhor das filosofias estava no contato, forjado ali mesmo, entre eles, no dia-a-dia, nas conversas, nos intervalos e nas anedotas.

O vínculo aumentou, os interesses comuns fortaleceram o quarteto, a vontade de expandir a amizade para além dos muros da escola foi inevitável. Aconteceu! Logo viam-se nos fast foods da região, sempre no mesmo dia da semana, como que em uma tradição velada, porém fiel.

Da refeição rápida, passaram aos encontros mais intimistas, na morada de um deles, ali perto, como quem deseja estender o tempo, que escoa, e acelera inevitavelmente as nossas vidas... Pães, frios, bolo, café, chá, groselha. Ali se reuniam, no mesmo dia da semana, ao fim de um corredor longo e molhado, limpo como que pronto para as brincadeiras pueris de escorregar e cair.

E como tudo o que é bom e redentor, o grupo cresceu. Claro, para isso, foi quase que necessária a inserção de placas e pinos de metal, mas isso é outra história. A sociedade aumentou, como que motivada pela alegria! Ficou, então, por um lado, mais alta; por outro, mais bela (belíssima eu diria).

Se o corredor era mesmo ensopado com o tal OMO, fica o suspense... Entretanto, a partir dali, os quatro, ao se comunicarem usando o nome da marca, criaram, sem perceber, uma metáfora! Metáfora do encontro! Do prazer! Da vontade de estar junto. Como no "Chocolate", ao sentirem os ventos da quarta-feira, todos eles se reúnem no dia seguinte, sem perguntas, sem confirmações, sem julgamentos... Apenas 6 amigos, imperfeitos sob a delícia dos sorrisos de quem se sente em casa!

Postado por Diário Halotano.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009




É... Em alguns momentos apoiamos, em outros retiramos o ombro, bruscamente, como quem somente se importa com o outro quando o próprio calo está intacto.

Quando falamos por cifras, corremos o risco de desafinar... Nem todo idioleto é preciso como uma sinfonia! Para isso ensaiamos, exaustivamente. Mas a exaustão é uma pedra em nosso caminho, na modernidade. Não nos exaurimos com mais nada hoje, apenas simulamos o toque de um barco, em força total, sem olhar para trás. Mal percebemos que nem o barco é nosso, apesar de a vida o ser. A Modernidade não tem memória, aniquila nossa afetividade, torna-nos zumbis, carentes de necessidades básicas e fantasmagóricas.

E pensamos que pensamos, distraídos que somos da existência do alheio e da consciência de nosso próprio self.

Nossas próprias palavras são ocas, cascas sem sementes, agentes destruidores. Prometemos, no interior da inconsistência. Juramos, no seio da infidelidade. Descumprimos tudo, ao menor sinal de risco, ou simplesmente por interesses egoístas e mesquinhos. “Resignificamos” cada expressão ideológica, ou princípio formador do caráter, afinal o mundo pertence aos relativistas.

Apontamos nossa acidez ao comportamento de sujeitos indeterminados, desafiamos a honestidade da humanidade inteira; pretensiosos e tendenciosos. Mas a quem julgamos senão a nós mesmos, quando dos tantos “alguéns” mencionamos as distorções, em nossas críticas exacerbadas? No mais íntimo de nossa incongruência, não percebemos que é nas decepções e angústias que nos revelamos a nós mesmos. Por isso, vivemos toda uma existência conhecendo amigos virtuais, sem nunca cumprimentarmos o nosso próprio eu, enclausurado e nu, batendo à porta de nossa consciência latente e inerte!

Postado por Diário Halotano.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009




Nunca fui atingido por tão longo bloqueio criativo; imaginei mil cenas fotografei mil paisagens e nenhuma delas falou-me mais forte do que as mil palavras que me libertariam deste calabouço; algum tempo se passou desde minha última letra em prosa e sigo em um gerúndio que não me solta; escrevo sem pausas e rupturas como o faria Raduan Nassar e mesmo assim encontro-me ofegante como se vivesse com ar demais em minhas narinas incapazes de respirar; sinto-me encarnando a metamorfose da metáfora daquilo que muda e não se cabe mais no mesmo mundo em que se nasceu ainda por esses dias; hoje foi um dia que mudou tudo e eu deveria sobre ele escrever mil poesias e mil contos e mil histórias fantásticas sobre o poder daquilo que nos transforma o ser em mil pedaços diferentes; mas a única palavra que sobrevoa minha cabeça é a fome que me mostra o longo caminho a seguir até que o jardim de minhas ideias ofereçam a mim e ao mundo outras palavras dessas que formam textos inteiros em nossas vidas...

Postado por Diário Halotano.