quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Ensaio 04 - Dezembro.





Dois cigarros... Uma cerveja... Este é meu café da manhã e meu almoço. Não sei em que refeição estou agora, acabei de acordar sem querer acordar. E não comi. Dois cigarros e uma cerveja. E só.

sábado, 14 de dezembro de 2013

Ensaio 03 - Dezembro.



Eu queria escrever como John Fante. Eu sinto as gotas de sangue correndo por minhas veias literárias. Uma história, uma única história, aquela, todos dela ouviram falar, eu sei bem qual é. Eu só queria conseguir escrever uma única história. Uma palavra perfeita, depois uma linha inteira, então um parágrafo, até formar uma página, e outra, e mais uma. E contar uma história toda. Mas as palavras não me saem fácil assim. E não consigo transformar gotas de sangue em histórias incríveis, como fazia John Fante, aquele desajustado, aquele gênio, aquele batalhador de Boulder, Colorado.

É assim que me vem um pensamento... "Oh, Deus, me ajude! E caminhei mais ligeiro, meus pensamentos me perseguindo, e comecei a correr, meus sapatos congelados guinchando como ratos, mas correr não adiantou, os pensamentos a torto e a direito atrás de mim". 

Não são minhas palavras, mas, pelos diabos!, um homem precisa começar por algum lugar...

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Ensaio 02 - Dezembro.



A literatura não nasce do tédio... Não há profundidade literária do "estou sem fazer nada, vou escrever"... Ou do simplesmente "não sei o que fazer hoje"... Estou definindo e, portanto, limitando, cagando regra, mas a arte literária é a arte do contato, do "ter o que dizer", mesmo que o dito seja o vazio. Ou, talvez, nem do "ter o que dizer" saia a arte literária. Porque a arte de escrever é, como toda arte, ofício, labor, esforço, construção. Ela tem sim fórmulas, regras, condutas, páginas em branco. E aí ela pode até ser mesmo uma arte do tédio, se bem construída, letra após letra e clichê após clichê (como agora se faz aqui). Seria, então, a arte literária um ofício meramente técnico? Como um estudo acadêmico de natureza morta ou um ensaio chato técnicas fotográficas reveladas em um nu artístico? Tão chato ficar perguntando o que é a arte... Mas o que é a arte literária? Do que ela é feita além de letras bem ordenadas? O que essencialmente difere um poema de Baudelaire e um de cordel? Ou a construção preciosista do Parnasianismo da escrita automática da Geração Beat? É a forma? É o conteúdo? É sua época? É o leitor? Ah... O que é preciso para ser um grande escritor, afinal? O que se estuda para escrever bem? O que se vive para escrever profundamente? O academicismo tem a resposta? A viagem do LSD? Existe resposta? Existe mesmo, afinal, essa fronteira entre o que é ou não é literário? Existe? Onde ela está? O que é preciso fazer?

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Ensaio 01 - Dezembro.



A questão sobre a escrita é a de que ela é a combinação de várias palavras. Se eu combinar alegria e desespero, posso construir um conto sobre uma mulher grávida que quase perde seu filho. Se eu combinar ilusão e amor, fica fácil escrever um conto qualquer sobre a decepção. Se eu combinar ainda elementos mais "concretos", como carne e faca, posso criar um conto sobre um açougueiro que quase desmaia de alegria ao se descobrir pai, ao receber a desesperadora notícia de que sua esposa está quase perdendo o filho em um táxi no centro da cidade e chora de decepção ao saber que foi iludido esse tempo todo por seu grande amor, que esperava um filho de outro homem que o aguarda em sua própria casa com uma faca para o matar!