domingo, 23 de agosto de 2009

O Jonalismo dos Patrões




Olá leitores. Depois de muitas conversas com um urso no quarto ao lado, reproduzo aqui o editorial de Mino Carta para a Carta Capital Nº 559, intitulado: "O jornalismo dos patrões - Até o mundo mineral sabe que quem acusa tem de provar. A mídia nativa não sabe". O editorial pode ser lido no
site da Carta Capital
, assim como em sua edição 559. Segue abaixo, na íntegra:


A mídia nativa tem, às vezes, o poder de me espantar. Ou, por outra, me obriga a meditar sobre a serventia do jornalismo e as responsabilidades que daí decorrem.

Leio o primeiro editorial da página 3 do Estadão de terça 11, intitulado “Mais um escorregão de Dilma” (quais foram os anteriores?), a ministra-chefe da Casa Civil que “o prestimoso presidente (...) ungiu como sucessora em potencial”. Miram os obuses em Dilma Rousseff, contra Lula, portanto. A ministra teria pedido, ainda em 2008, à então secretária da Receita Federal, Lina Maria Vieira, para agilizar a auditoria do Fisco nas empresas da família Sarney.

O editorial foi altamente representativo do comportamento de toda a mídia em relação ao caso e lhe concedo a primazia em nome da antiguidade e da importância das baterias. Decretam os senhores midiáticos que dona Lina era, e é, o rosto da verdade, e o Estadão, naquele texto simbólico, alinhavou à larga as razões do seu veredicto. Atendia às conclusões gerais dos demais integrantes da comunidade jornalística, a bem do pensamento dos frequentadores do privilégio e do ódio de classe.


“Mais um escândalo, enfim, que o lulismo tentará abafar.” Últimas palavras, famosas, do editorial do Estadão. A leitura forçou-me a perguntar aos meus insubstituíveis botões: serei eu um lulista ao tentar uma análise isenta do episódio, conforme o dever, creio, de todo jornalista? Por exemplo, uma análise que parta da avaliação honesta das atitudes de dona Lina e de dona Dilma. Era do conhecimento até dos paralelepípedos da antiga rua Augusta, célebre artéria paulistana hoje asfaltada, que quem acusa deve provar.

Ocorre que dona Dilma nega in totum a acusação de dona Lina, e não estamos a lidar com as alegres comadres de Windsor. Proclama o Estadão: ao demitir a secretária da Receita, seu superior, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, teria confessado cumprir ordem que “veio de cima”. Disse mesmo? Ou é dona Lina quem diz? E por que, de todo modo, em cima estaria dona Dilma?

A mídia, seus patrões e editorialistas, colunistas, perdigueiros da informação, não se permitiram e não se permitem exames de consciência em ocasiões múltiplas e diversas. Cabe, desde 2003, semear pedras no caminho de Lula e, desde 2007, de sua ungida a “sucessora em potencial”. Vale então outra pergunta: a favor de quem?

O governo Lula, na opinião de CartaCapital, não foi aquele que esperávamos, mesmo assim saiu-se melhor do que os demais na pós-ditadura, e bastariam a eleição e a reeleição do ex-metalúrgico para assinalar um divisor de águas na história do País. Não é por acaso que o presidente é o mais popular desde a fundação da República. Aos olhos da maioria pouco importa o que Lula faz, importa quem ele é.

Em contrapartida, dona Dilma não é ex-operária. Se for candidata, os demais concorrentes também não serão. Observem, contudo, como é apresentada a possível, ou mesmo provável, candidatura da ex-ministra e senadora Marina Silva. Ganha o transparente, simpático apoio da mídia, como a incentivá-la a tomar a decisão final. Por quê? Para significar um contraponto à candidatura Dilma e gerar uma profícua confusão na área.

Carta Capital sempre manifestou profundo respeito e apreço pela senadora Marina, e lamentou sem meias palavras sua saída do governo. Trata-se, na nossa opinião, de uma verdadeira dama em luta pelas melhores causas. Na Presidência, inalcançável, acreditamos, nas condições atuais, honraria o Brasil. Não se enganem, entretanto: sua candidatura será trombeteada por quem se empenha pelo retorno do tucanato.

Quanto à presença de um passado mais ou menos burguês (não é o caso da senadora) no currículo dos possíveis sucessores de Lula, este é, para todos eles, um ponderável motivo de preocupação.

Postado por Diário Halotano.

domingo, 16 de agosto de 2009




Este é o primeiro texto no apartamento novo. E, como não poderia deixar de ser, estou escrevendo da janela do escritório, olhando a noite, as nuvens no céu ainda em fim-de-tarde. Sou um observador, gosto de olhar o que se passa alheio à minha vontade, indiferente, aleatório. Pessoas, carros, vozes, aviões, sons, gols, jardim, crianças, ruídos indecifráveis, cheiros e sensações. Estas, porém, só minhas, únicas, "incompartilháveis".

Tem sido, o ano de 2009, muito bom. De tantos adjetivos possíveis em nossa língua, a locução "muito bom" parece caber como luva de veludo, confortável e bela. Novos empregos, novo carro, novo apartamento, vida nova com a Elise. Muito bom!

E sigo observando. Esperando. Motivando. Atuando. Simplesmente, hoje, mais do que nunca, sigo seguindo, em um gerúndio que vem a calhar. Eu mesmo, assim como minha escrita, sou uma arte do infinito, sempre um pedaço faltando, todavia sempre em movimento. Boa noite.

Postado por Diário Halotano.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Escrever é Arte da Vida Inteira




A escrita é uma arte da vida inteira. Ouvimos histórias, lemos romances e contos, estudamos teoria literária e praticamos. Construímos cada palavra como quem constrói uma casa, como quem pinta um quadro, como quem esculpe em pedra sabão... Tijolo a tijolo, cores em cores, com ferramentas especiais, para não destruir uma peça inteira.

E a cada palavra nova, uma frase em oração. A cada linha, ponto, exclamação, aprendemos algo novo de nós mesmos. A escrita nos tira o que está ali, latente, porém interior. Imagino-a como um fotógrafo do inconsciente, revela nossas inquietações, todavia, o faz em palavras elaboradas, refinadas e polidas. Nem sempre escrevemos o que sentimos de verdade, mas sempre sentimos a verdade do que escrevemos, sempre!

A escrita é uma arte da formação, nunca se completa, mesmo quando chega ao leitor. É, acho, um círculo com um pedaço faltando. Ou um sinal de infinito, com um pedaço faltando. Inexiste uma obra completa, mesmo sob o ponto de vista do autor (afinal, as leituras alheias são infinitas mesmo). Uma obra é um marco, que, por ser histórico, é transitório, passageiro, verdadeiro por um período, que não pode ser contado.

É uma arte da continuidade, por assim dizer, aprendemos enquanto executamos. E aprender é humilde, aprendemos de nós mesmos, todavia, fundamentalmente, dos outros. A escrita é uma metáfora do círculo, do infinito; porém é, sob esta referência, também figura da louça na pia. Lavamos sempre, e ela estará ali, sempre também, até que morremos e paramos de escrever, nunca mais lavamos a louça. E, ambas, continuarão seus caminhos, a escrita e a louça, lidas e lavadas, por olhos e mãos alheias... Afinal, o infinito da escrita não acaba, não é mesmo? Terá sempre um pedacinho faltando...

Postado por Diário Halotano.