segunda-feira, 30 de julho de 2012

Não…


Não consigo dormir. E não é só porque troquei o dia pela noite durante as férias. Não consigo dormir porque não sei entrar em contato com esse mundo dos sonhos. Não consigo dormir porque tenho um medo pueril de que o mundo, o meu mundo, continue girando durante meu sono. Não consigo dormir porque tenho ciúmes, ciúmes dos teus livros, da tua cama, do que está fazendo, no que está pensando. Não consigo dormir porque o escuro me aterroriza. Não consigo dormir porque fechar os olhos me coloca em contato com memórias horríveis de quem não sou, do que não queria ter sido. Não consigo dormir porque não sei o que serei, mesmo sabendo o que tenho que fazer ao acordar. Não consigo dormir porque não sei entrar em contato com esse mundo dos sonhos e, para mim, dormir é como morrer. Não consigo dormir porque não quero me sentir morto quando acordar, não-pessoa, sem saber qual emoção vestir para aquele dia. Não consigo dormir porque não queria morrer, somente não ter nascido. Não consigo dormir porque tenho pavor da morte, ela me assombra, todos os dias. Não consigo dormir porque penso em todas essas coisas, ao invés de dormir. Não consigo dormir porque em teu colo, ao som do sussurro da tua voz, em contato com tua pele, todo esse estado de espírito desaparece como poeira ao vento. Não consigo dormir, porque não sei mais viver sem dedicar minha vida a você, que descobriu o que sou e arrancou do meu peito vazio minha voz, cansada de se esconder. Não consigo dormir, porque tudo o que quero é gritar teu nome. Não consigo dormir…

domingo, 22 de julho de 2012

Uma carta de adeus…

Não tem mais graça, acabaram os roles, findou-se a esperança. Aos trinta, percebo uma vida de porvir. De expectativas que não se cumprem. De ansiedade crônica. Vivi o amor, daquele descrito por Álvares de Azevedo, sublime e único; ardente e eterno; virgem e romântico. Ele está aqui, intacto e vivo. Mas o fiz morrer, traidor de causa própria. Não consigo viver com meu erro, erros. Não posso pedir que se conviva comigo. Meus pecados me atormentam como fantasmas de uma escuridão tão palpável quanto etérea. Camaleão, arrancaria minha própria pele, não somente meus pêlos, para nunca mais transitar por tantas verdades, efêmeras. Sou o maior vilão, em uma história povoada de mocinhos. Chapéu, barba, charuto, whisky, olhos cerrados, botas usadas. Sombras, pó, destroços, fumaça, maldade, marcas de guerra. Palavras soltas em um corpo maltratado pela fratura autoimposta. Poesia destruída por um espírito amaldiçoado pela morte de tantas possibilidades que poderiam ter sido e não foram. É o fim da linha, ponto final, combustão. Fiquem em paz, não se perguntem porquê, não se encham de ais, vivam. Aproveitem cada sanduíche, bebam cada vagina, sorvam cada pênis, corram cada trilha e esmurrem cada obstáculo. Coragem. Não saibam nunca o que é ser o homem mau, por trás dos olhos tristes, obrigado a construir mentiras e álibis somente pra trair a felicidade entregue à porta numa manhã de trabalho. Sejam honestos. Em algum lugar, em alguém, deve haver a esperança. Porém não aqui, não para mim. Fim da linha, ponto final, combustão. Antiplacebos, combustível, a negação do onírico. Adeus!