quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Sentimentos em Carvão...






Uma parede branca. Entre várias paredes brancas. Algumas em móveis, quadros, detalhes em azul. Mas aquela parede branca, única, tinha o sabor das eras em carbono cru. Carbonizada, colhia a cada dia memórias finitas, condensadas, escolhidas e dedilhadas. A frase de uma música, o desenho de um prédio, o esquema de avenidas inteiras. Alinhavam-se naquela parede branca os sonhos todos, a cada centímetro, a cada segundo, a cada batida dos corações.

Muro das lamentações, guardava as lágrimas daqueles dias doloridos de saudade contrita. Sabe, aqueles em que se chora sozinho diante da única parede branca que pode receber as letras inenarráveis da dor lancinante de estar só?

Mural mexicano, recebia, sem cores, propagandas secretas de tudo o que poderia ser e não foi, ou foi, ou seria, ou não seria mais. Sabe, aqueles planos e projetos e ações e inações e desejos e perspectivas e conquistas?

Lousa, ceifava todo o pó do que se reserva da vida inteira, nossa, vil, humana. Sabe, aquela lousa dos ensinamentos das vidas vividas em dias e dias de olhares, informações e pressentimentos do destino?

Era uma parede branca. Só uma parede branca riscada de carvão. Não era nada mais do que uma parede branca em risca de giz negro. E, assim, singela e contaminada, resumia vidas inteiras. E, assim, cinza, sintetizava a magnificência de existir no mundo. E, assim, ambígua, simbolizava as metáforas da vida, luzes e sombras coexistindo em uma harmonia impossível, tensão orgânica.

De quantas vidas teria sido testemunha aquela parede? De quantas dores? De quantos desejos? De quantas frações de segundo? De quantos dias e noites redundantes?

Não importa. Já não importa mais. Ela é branca. E seus rabiscos não são mais meros rascunhos.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011




A dor é crônica e a ferida incurável. E poesias pobres não ajudam a carregar o peso dos meus pecados, cimentados nesta natureza sombria. Que me venha o inferno e que não exista salvação. E que meu corpo transborde, porque não há mais espaço que me possa suportar.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

LOVE IS A GOD FROM HELL


Imagem: http://oldworldcounterfeit.com/.


Crianças, o amor é um cão vindo dos infernos.
Aprendam com Bukowski. Somente para desaprenderem tudo.
Toda a poesia do mundo morreu com o holocausto?
E quem foi que disse que o holocausto morreu?
São tão ingênuos, em suas vestes politicamente corretas e mania de controle.
Boa sorte!
Não há nada de novo na vida, nada de bom na humanidade.
Respirem, pela última vez, o ar cúprico que os cercam.
Acordem! E morram.
Durmam! E morram mesmo assim, entorpecidos e imbecis.

Mas, nossa, que palavras fortes! Já vi melhores, mas são fortes.
E quem disse que tua opinião me importa?
Quem disse que me interessa quem és tu?
Apodrece no seio de tua paixão suicida.
Desintegra-te no íntimo de tuas vivências simplórias.
Afunda-te nos desejos de teus heróis bufões.
Tolo, ainda tem heróis?
Infante, ainda acredita na providência?
Rio-me de ti e dessas vãs esperanças.
A esperança é a coleira do cão do amor, vindo do meio dos infernos.

Calem-se! Todos!
Não preciso de interlocutor.
Afastem-se! Todos!
Não preciso de companhia.
Saiam! Todos!
Não preciso de audiência.
Fujam! Todos!
Não preciso de seguidores.
Ceguem-se! Todos!
Não preciso de admiradores.
Corram! Todos!
Que eu quero ficar sozinho!

Alguns se apegam a um deus que não existe.
Outros se apegam a um deus que os rejeitou.
Outros não se apegam a porra nenhuma.
Eu me apego a um par qualquer de pernas abertas.
Apenas para soltar como quem cospe na areia do deserto.
E todos se apegam a mim.
Como se de mim saíssem mistérios revelados.
Já alerto esse afeto: Eu me desapego!
Porque o amor é um cão vindo dos infernos!
E eu o tradutor sombrio de seus latidos!