terça-feira, 31 de janeiro de 2012

eu não sei escrever!




queria poder dizer que te amo!
queria poder voltar no tempo.
pra dizer que te amo.
pra esconder de todo mundo.
pra guardar você comigo.
pra dizer que te amo!

queria poder dizer que te quero!
queria avançar as horas.
pra dizer que te quero.
pra me esconder nos escombros.
pra construir nosso ninho.
pra dizer que te quero!

queria poder dizer das saudades!
queria controlar o tempo.
pra dizer das saudades.
pra me afastar dos vilões.
pra te revelar os segredos.
pra dizer das saudades!

queria dizer que te espero!
queria destruir o coelho da Alice.
pra dizer que te espero.
pra escrever maravilhas.
pra criar um mundo novo.
pra dizer que te espero...

amor, desejo, saudade, paciência.
o amor é feio.
o desejo, impuro.
a saudade, crônica.
a paciência, perene.

ah, se tão somente eu soubesse escrever...
eu diria que te amo.
diria que te quero.
diria das saudades.
e aprenderia a esperar.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Não entre na internet hoje!




Todos os dias o menino brincava as brincadeiras de sua geração. Vídeo Game, jogos online, internet. Era mesmo uma rotina aquela. Férias, enfim.

Ouvia todos os dias aquelas frases de uma geração que não era a sua. "Vai brincar lá fora, menino! Olha esse sol, que lindo". Porém, menino, continuava a brincar com aquilo que conhecia tão bem, vídeo game, jogos online, internet. "Mudar pra quê", pensava sozinho, arrastando seus dedos sobre o teclado verde de sapo.

Mas aconteceu um dia de acabar a luz, na casa do menino. Era de noite já. Sem vídeo game, jogos online e internet, o menino não queria dormir. Caçando pela casa, procurava o que fazer, monotonia. Não era desde sempre que o menino jogava os jogos de menino, já lera muitos livros, dentro e fora da escola. Não queria mais ler.

Andou pela casa e foi juntando uns cacarecos. Copos, panelas, papel alumínio, bichinhos de pelúcia da irmã, talheres, bonequinhos de ação. Montou uma cidade inteira, lá na sala, debaixo da mesa de jantar. E brincou a noite inteira, o menino.

Adormeceu. Acordou em sua cama, meio sem saber como tinha parado lá. Ansioso, correu para o vídeo game, jogos online e internet. Mas a luz não tinha voltado, coitado do menino. Ficou mesmo triste, melancólico, quase fora de lugar, sem saber o que fazer.

"É… fazer o que, né? Vou lá fora. Os meus amigos devem ter alguma idéia do que fazer sem luz", pensou o menino, cheio de esperança. E saiu.

Lá fora, sentiu o sol em sua pele tenra. Era uma sensação muito esquisita aquela, do sol, da brisa, da rua. Já tinha sentido aquilo antes. Porém, por sabe-se lá qual motivo, tinha se enterrado por anos no vídeo game, jogos online, internet. "Ah, se todo mundo da minha idade faz isso, deve ser legal", pensava o menino, antes de acabar a luz.

E correu. Brincou de futebol. Viu meninos e meninas. Conversou, pulou, andou, trepou e ralou os joelhos. "Até que isso de sair de casa é uma boa alternativa", disse o menino pra sua nova amiga da rua.

Esperto, logo o menino percebeu que toda a diversão da rua estava em brincar com outros meninos, com as meninas. O mais legal da rua era não precisar jamais ficar sozinho. Brincava tanto com meninos e meninas que sempre voltava sujo pra casa, férias de menino de rua, enfim.

Sujo de meninos e meninas, o menino se sentia vivinho. Dias e dias tinham se passado, a luz tinha voltado há tempos e o menino nem pensava mais em vídeo game, jogos online, internet. Só queria a rua, as esquinas, o medo e o delírio.

Sujo de meninos e meninas, suado do calor do sol, ralado pela brisa e com a rua sob as unhas, o menino brincava com a torneira. Fazia isso todos os dias. Metia a mão sob a torneira e se sentia molhado, balançando os dedos pueris. Um dia, dois dias, três dias, quatro, cinco… Era aquele seu momento preferido do dia, brincar com a torneira.

Até que um dia, ou uma noite, o menino apertou toda aquela água contra a torneira. Estava decidido a não deixar nenhuma gota de água ir embora. Apertava com vigor e insistência. "Não posso deixar a água ir embora, não posso, não posso!", pensava o menino, em transe. Entretanto, vencido pela força líquida, não podia fazer mais nada além de sentir a água escorrer pela palma de sua mão direita. Bem no meio de sua mão, o menino sentia cócegas. Bem no meio do peito, o menino ganhava coração. Bem no meio da noite, o menino virava homem.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

de olhos fechados...




De olhos fechados para qualquer realidade, abertos apenas para o abstrato. Se os abro, vejo as chamas. Prédios caem, uma criança chora, vejo pedaços de renda francesa preta se queimando no chão.

Mas, de olhos fechados, o chão é de vidro, e vejo toda a cidade iluminada sob meus pés. Imagine se pudéssemos ir pra qualquer ponto dessa cidade?

Tentei quebrar o chão de vidro, pois daí seríamos plenas, eu e a arquitetura. Mas no meio dessa viagem ao abstrato abri meus olhos. Ao contrário do que era antes, as chamas e rendas pretas carbonizadas vieram parar dentro de mim. Meu corpo são os prédios a desmoronar. Por fora, sou só aquela criança que chora.