sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Palavrorio.

tudo o que havia de poético em mim está morto.

esses sentimentos inomináveis da poesia, dos poemas, da sensibilidade das palavras, morto!

todo esse alfarrábio semântico que de nada mais serve há tanto tempo já.

morte em vida, trocadilhos infames e imbecis.

simples sinonímias do espírito, da carne vazia e oca, que não ecoa, que não ouve, que não vê.

sem retorno ou eco, repetições e mais repetições, redundâncias em redundâncias...

essas métricas bestiais e prisionais.

essas medidas, esses parâmetros, regras, grafismos, gramáticas, leis e leis e leis, mais nada!

estou cansado da ausência de cores, dos nomes que se dão às cores do peito alheio e do meu mesmo.

farto, enfastiado, cheio desses códigos de conduta que arregaçam os desejos mais belos, puros e putos.

palavrões são mais honestos do que essas meias palavras medidas e feias, simetricamente alinhadas em discursos do que não é, nao foi, não será.

onde estão as verdades, mortas na língua dos humanos prontos a ferir.

nada mais humano do que as mentiras, larvas podres e vivas, soltas nos lábios em carne viva, à mostra nos humanos vis mais comuns.

o que é a amizade, em uma selva louca, transitória e estática?

o que são as palavras, essas prostitutas que se prestam a qualquer uso, sempre igual, sempre o mesmo, sempre de novo, sem preço?

o que são os sentimentos, esses furacões imbecilizados pelo beijo, pelo vício, pela virtude, pelas letras?

meros adjetivos, substantivos, sinônimos medíocres de seres medíocres, ralos, rasos, sopa nazista e pós moderna!

chega! basta! não quero mais palavras. quero explodir, sair, sentir, despojar-me dessas ênclises, próclises e mesóclises da raça humana falida, bastarda, fétida, falsa, mascarada, pequena, fértil, dominada, idiotizada, repetida.

basta! chega! não quero mais adjetivar meus verbos, em um discurso da vida que parece não viver, não narrar, apenas gestos mecânicos mortos e respirando!

e daí que as nossas experiências não podem ser comunicadas? e daí se não há um outro? o ser humano não presta mesmo!

afinal, há um eu mesmo? nessa esquizofrenia chamada existência?

o que há? o que não há? o que existe ou deixa de existir? importa mesmo esta merda?

nada além de palavras, repetidas, amargas, doces, podres, sujas, mortas, vãs, sempre as mesmas, desde ontem, até amanhã!

e depois, e depois e depois... sempre palavras.

sempre as mesmas palavras, ditas, não ditas, ditadas.

ah, que se fodam as palavras, eu mesmo, as mesmices, você!

Um comentário:

Fabricio R. disse...

Esse poema ficou bom... achei que ia rimar um certo momento, mas aí vc voltou ao foco e mandou bem... o discurso é meio batido, e outros cartunistas de jornal já escreveram palavras mais rudes. Mas acho um progresso... a alternância de estilos... a habilidade de sair fora do confortável discurso treinado durante anos.

ps. o captch que apareceu para mim aqui embaixo, é morts... ahhhh será uma previsão? Um sinal da matrix?