quarta-feira, 4 de março de 2009




"Anônimo", por Fabrício Remígio:

"Anônimos são todos aqueles indivíduos que saem de casa de manhã, voltam à noite, assistem televisão, sonham com um carro novo e traem suas mulheres e maridos".

Era de manhã. Era no carro novo. Era na ida, infelizmente pronto para voltar... Sem adultérios!

Um dia de verão, desejo de chuva, cheiro de asfalto molhado, pé na estrada.

Palavras soltas, como estas, vagueavam o córtex. Escrita mental, que se torna automática, como sempre. Quer-se poesia, mas se faz prosa morna, pétrea, como rochas praieiras.

Sentado no macio do banco, revela a si mesmo a ruptura que vive em todos os sabores. Sorve a protusão de estar na metrópole. Acha-se perdido, antonímia sem sentido, quase um trocadilho meramente infame.

Escreve, pensa, degusta, enjoa, quebra, rompe, arrebenta, junta, rejunta, acolhe, descobre, esquece, lembra, relembra, senta, aperta, angústia.

E permanece anônimo de si mesmo, ocultando desejos eternos do mundo inteiro na ponta de sua esferográfica transparente.

Postado por Diário Halotano.

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