sábado, 10 de março de 2012

Eu vejo névoas...

eu vejo névoas...
vejo névoas em meu quarto...
vejo névoas sob meus olhos...
e névoas sobre meus pés.

eu vejo névoas.
névoas em dor de perdão.
névoas em paciência apaixonada.
névoas tristes de adeus.

eu vejo névoas.
e as espanto com meu leque surrado!
e as névoas levam meus cabelos louros!
e as névoas apontam minhas feridas!

não vejo as névoas.
estão sob minha pele pálida e emprestada.
um dia comandei navios e portos espaciais.
e hoje nu pelas névoas sem pátria.

onde estão meus olhos em névoas?
o que poderei enxergar, além do Mediterrâneo?
para onde me leva meu timão?
quais nomes dou às velas marrons?

mato! morro! sou! desfaço!
rolem, ondas eternas...
persigam os fantasmas disfarçados em pérolas de carinho!
abracem este navegante de luas minguantes...

enquanto me acharem as névoas, não chegarei ao fundo do mar.
quando as névoas me perderem, navegarei sem sentido.
respiro o vício da maresia.
aspiro terra seca sem esperança.

o norte não há, porque eu já não existo.
o destino não é o ponto de chegada.
as névoas não são metáforas de qualquer coisa.
minha vida não é o fim da história.

sob os joelhos, sinto as névoas que não vislumbro.
como pedaços de meu corpo, sangrando um rubro em pó.
diluído em sal, mar, névoas e carne viva.
estupro meu espírito, escravo de meu corpo imundo.

descalço...
manco...
vesgo...
em queda livre...

não existe final feliz.
e se for o interlúdio o que procuro?
de noite em noite, escuridão em escuridão...
só me deixem tentar de novo, para que eu erre, mais uma vez.

Nenhum comentário: