quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

bastardos!




tomem a balsa, seres infiéis.
tomem a balsa rumo ao norte!
quando cruzarem a linha do equador, abracem-se, homens honestos.
fiquem nus e se abracem.
não tenham mais medo de olhar nos olhos uns dos outros, tolos.
pronunciem com vigor as palavras absolutas da verdade, do amor, da fé, da honra, dos mistérios.
pronunciem!
vamos, vivam!

vivam e chorem.
vivam e corram.
vivam e sorriam.
vivam e se abracem.
vivam e comam.
vivam e briguem.
vivam e transem.
vivam e se transformem em seres humanos.
vivam e nunca mais sejam os mesmos.
vivam e busquem sua voz, oculta ao som dos grilhões.

vivam e ouçam.
vivam e regozijem.
vivam e gritem.
vivam e se desmascarem.
vivam e beijem.
vivam e persigam.
vivam e amem.
vivam e se desfigurem de toda a bondade da terra.
vivam e transformem a vida de alguém, destruam-na.
vivam e busquem sua voz, explícita ao som dos mares.

do contrário, de que vale essa vida?
qual o sentido da história?
e onde se declamará sua biografia?

mas quem foi que disse que a vida vale alguma coisa?
quem foi que disse que a história deve fazer qualquer sentido?
ou que biografias devem ser poesias declamadas ao ar livre?

quem teria a ousadia de declarar que o mundo gira conforme a nossa vontade?

vãos. é isso que somos.
passageiros e efêmeros.
surdos e pelados.
ingênuos transeuntes do espaço.
egoístas de nossas próprias desilusões.

desçam da balsa, órfãos repetitivos.
já é hora de descer.
ao norte não chegamos.
porque sabemos dele não existir.
que a frieza das sombras da morte nos abracem.
e o nosso lugar é bem próximo.
é chegada a hora de nossa morte.
que som é este? é o som dos bastardos!

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