quinta-feira, 26 de maio de 2011

em uma esquina do mundo...

Não é fato de todos os dias encontrar alguém com quem passar o tempo.

Tampouco é fato de todos os dias simplesmente encontrar quem se ama.

O que encontramos, todos os dias, então? Com quem dividimos o tempo, baú de mistérios e tesouros da vida toda? Contra quem competimos, todas as manhãs, antes mesmo de o sol nascer? Com quem jogamos, flertes infinitos, até que o sol se ponha?

O que é a vida, se não mera sucessão de fatos aleatórios? O que é a existência, se não consequência daquilo que nós mesmos escolhemos ser, personagens que somos de nós mesmos, figurantes de nossa própria narrativa em primeira pessoa?

Não é fato de todos os dias encontrar quem se deixe levar.

Tampouco é fato de todos os dias simplesmente encontrar quem te beije.

O que encontramos, todos os dias, então? Com quem dividimos a boca, invólucro de sonhos e verdades incomunicáveis, indizíveis, só nossos? Contra que corpo lutamos toda semana, até que o sol se ponha, em uma tarde qualquer de sexta feira? Quais os motivos de nosso nascer do sol?

O que é você, se não quem tudo mudou, para sempre? Quem é você, se não quem escolheu dizer sim, tão somente para dizer não? Quem somos nós, afinal? Pessoas ou personas? Vivos ou personagens? Autores ou modestos expectadores?

Não é fato de todos os dias encontrar quem se comunique.

Tampouco é fato de todos os dias simplesmente encontrar quem te saiba inteiro.

O que encontramos, todos os dias, então? Com quem dividimos o peito, bumbo que vibra, honesto e fora de tom? Contra qual coração lutamos por meses, de cadência em cadência, compasso em compasso, como maestro que não suporta mais o peso dos próprios joelhos em câimbra? O que nos move a continuar tocando, conduzindo?

O que somos nós, que não mais existimos? Quem somos nós, depois de tudo o que se disse, tudo o que se fez, tudo o que foi? Somos pó? Afogados em um verde-mar do esquecimento?

Onde está minha deriva? O que fez conosco? O que fez comigo? Um só por hoje em um nunca mais?

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