segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009


Foto: Fabrício Remigio.


Definindo o Otário

Era uma vez (sim, ainda iniciam-se textos assim) um solitário. Não se sabia se era um homem ou apenas uma peça de roupa.

Importava-se com a maldita escrita automática, menos, cada vez menos com o intelecto polido, argüidor e possante dos tempos da “academia”.

Apenas mantinha textos suaves em sua versão eletrônica de livro, diário ou sei-lá-o-quê. Não mais empoeirava suas narinas em mofo áspero de biblioteca pública fetichizada.

Leu o “Como me Tornei Estúpido” e alcançou o que jamais Martin Page conseguiria colocar em sua algibeira oca e sem fundo. “Tinha poucos amigos, porque padecia dessa espécie de anti-sociabilidade que resulta da demasiada tolerância e compreensão. ... Em um mundo em que a opinião pública está confinada nas pesquisas às possibilidades sim, não e sem opinião, Antoine não queria preencher nenhum quadradinho”.

Era um apátrida no meio de uma sociedade que simplesmente suava soberba moderna sem face e sem poros. Sentia-se mole, como que mesclado em névoa lúgubre. Sentia-se sem identidade, sem “eu mesmo”, desassociado de possíveis grupos que o acolhiam sem saber como.

Espreguiçou sua mente em rede de lã. Sem novelos. Sem parágrafos. Sem vida. Sem história. Sem gosto. Sem compaixão. Sem solidez. Sem pó. Sem tudo o que se imagina existente em alguém que é.

Descansou seu cérebro em tamanha qualidade de colchão, que não era mais capaz de engolir a seco as pílulas da crítica social ou simplesmente qualquer pílula que promovesse raciocínio obscuro.

E saiu do extenso. E abandonou o complexo. E parou a dança com o violinista cego da tumba logo ao lado.

Inaugurou uma nova balada. Sons claros e límpidos. Água gelada em meio aos sons refinados das bebidas coloridas de seus antigos comparsas.

Foi-se. Caminhou-se. Debateu-se, pela última vez. Cambaleou como fera que foge do circo maravilhoso que mostra ao mundo a insensatez. Sua arena era estéril. Seus pensamentos, áridos. Sua filosofia, gelada e cristalina.

Tomou o último gole. Disse adeus. Mediu os caminhos. Mais uma vez, admirou-se de sua própria capacidade de metamorfose. Sonhou, em um suspiro, com a lagarta-borboleta, parou, como que em soluço, de pronunciar metáforas. Era o fim.

Postado por Diário Halotano.

2 comentários:

Anônimo disse...

O fim do que??
Do otário??
ou o inicio de uma vida otária???

Ricardo Lazok disse...

Quando você for capaz de entender o que escrevo, a gente conversa. Enquanto isso, aguenta a sua mediocridade!
Abraço.