segunda-feira, 1 de dezembro de 2008






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Ao refletir sobre a ausência proporcionada pela morte, sinto o desejo de compartilhar uma coleção de minhas reticências. Reticências ao início dos parágrafos, como se fôssemos suprimir a citação de algum autor famoso. Ou aquelas escritas aos finais de frase, como quem "engasga" e não consegue mais criar uma só palavra de amargura. Aprecio a sensação profunda também daquelas orais, de quando colidimos com um corpo, contemplamos a extinção, avistamos lágrimas, e simplesmente oferecemos o abraço apertado, porque não há o que possa ser dito!

Porém... Hoje ofereço aquelas entre parêntesis, sozinhas, cercadas por duas colunas curvas. Metáfora da dor, as reticências substituem sem substituir nossa ausência, um espaço vazio, a angústia, as pontadas profundas, a solidão, os bancos vagos. Os parêntesis demarcam nós mesmos, colunas tortas de pânico; curvas de uma via só, agonia de estar vivo, de estar reticente, de personificar as vértebras recostadas em ângulo oblíquo do nada, que fora tudo...

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Para a suposta "humanidade", inexistente em estruturas filosóficas, morta ela mesma, os corpos estéreis são estatísticas. Para cada um de nós, as contas não são em milhões, muito menos em bilhões, sim dolorosas unidades desprovidas de fôlego... Um cadáver não anda conosco aos sábados à tarde de primavera, não faz sexo no calor do quarto escuro, não nos aconselha em momentos de dúvida, não joga futebol na segunda à noite, não toma suco de abacaxi no verão paulistano, não sente, não fala, não é...

Dói! Como dói! Dói em exclamações, em pontos finais, deixando reticências-prosopopéias.

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Postado por: Diário Halotano

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