quarta-feira, 16 de setembro de 2009




Ossos vítreos, estáticos. Vozes estranhas, distantes. Amplitude arquitetônica em corredores perpendiculares, racionais. Não há fotos nas paredes, ausência da memória. Aqui não se celebra o passado, vive-se um presente pragmático e calculado; projeta-se o futuro, maquinalmente, sem angústias, sem perguntas, quase sem reflexão crítica.

Ossos, moribundos nos corredores, sob a luz da rua, são mais livres do que emparedados, em suas saletas quadradas, presos em sua realidade auto-gerida de investigadores da vida, ausente.

Ossos, esqueletos de uma montagem auto-suficiente sem relevância aos de fora. Quem se importa com o que se passa nessas arcadas, amplas e retas? Quem se beneficia senão somente aqueles que delas bebem os químicos mortíferos da ausência completa de criatividade? Pó, escombro, carcaça, palha, formol. Modorrentos simulacros da morte após a vida.

Ossos vítreos, estáticos. Vozes estranhas, distantes, desconhecidas. Solidão. Amplitude arquitetônica em conexões alinhadas. Pavor. Tudo está claro e sombrio. Vejo vultos por todos os lados. A cada janela, a luz. A cada porta, espectros do que não existe, aracnídeos gigantes e ilusões ópticas monstruosas.

Ossos, em um estalar de ossos, sou um inseto. Grande, articulado e horrendo. Misturo-me a outros restos, mas não pertenço a este lugar.

Postado por Diário Halotano.

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